Tudo sobre economia circular e sua importância para gestão financeira

A economia circular promete reduzir o impacto ambiental e mudar nossa forma de consumir e produzir. Entenda esse novo conceito.
6 minutos de leitura
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A economia circular é uma alternativa que promete frear os impactos ambientais e mudar a forma como produzimos e consumimos atualmente.

A ideia é simples: em vez de extrair recursos sem parar, fabricar bilhões de produtos e gerar toneladas de lixo, poderíamos transformar os resíduos em novas matérias-primas para criar um ciclo sustentável.

Dessa forma, tudo poderia ser reaproveitado como ocorre na natureza, dando tempo ao planeta para se recuperar e beneficiando pessoas, empresas e ecossistemas. Parece uma ideia incrível, não acha?

Vamos explicar como funciona essa tal de economia circular e qual sua importância para as finanças.

Leia com atenção e entenda o que vem por aí no desenvolvimento sustentável.

O que é economia circular

A economia circular é um conceito que se opõe ao modelo atual de “extrair, produzir e descartar” e propõe novas formas de desenvolvimento e práticas econômicas.

Seu objetivo é reduzir o impacto humano no meio ambiente e redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade e para o planeta — ou seja, um caminho para o desenvolvimento sustentável.

Para isso, a economia circular se baseia em três princípios:

  • Eliminar resíduos e poluição desde o início do processo produtivo;
  • Manter produtos e materiais em uso contínuo;
  • Regenerar sistemas naturais.

Basicamente, o “circular” se refere a uma economia baseada em ciclos semelhantes aos da natureza, em que os resíduos servem como insumos para criar produtos.

É como acontece no meio ambiente: os restos de frutas se decompõem e viram adubo para fertilizar a terra e dar origem a novas plantas, por exemplo.

Seguindo essa mesma lógica de inteligência natural, a economia circular propõe que os materiais sejam reciclados e reutilizados na cadeia de produção, em vez de serem descartados como lixo.

Economia circular x economia linear

Hoje, vivemos em uma economia linear, que vai na contramão do conceito de economia circular: os recursos naturais são explorados à exaustão, transformados em produtos e então descartados.

Esses resíduos são considerados inúteis e se acumulam sem parar no meio ambiente, levando o planeta a um estado de esgotamento — tanto pela extração desenfreada da matéria-prima quanto pelo lixo acumulado prejudicando o ecossistema.

Para você ter uma ideia, o consumo mundial de matéria-prima atingiu o recorde de 100 bilhões de toneladas por ano em 2020, segundo um relatório da Circle Economy, escrito em inglês.

Boa parte desse material acaba descartado no modelo linear, em vez de voltar ao ciclo produtivo. Por isso, o sistema atual é considerado insustentável em longo prazo, e a economia circular vem ganhando força como alternativa para construir capital econômico, natural e social.

Como funciona a economia circular

A economia circular funciona em um ciclo contínuo de fabricação de produtos, consumo humano e transformação dos resíduos sólidos em novas matérias-primas.

Dessa forma, conseguimos aplicar o conceito de “cradle to cradle” (do berço ao berço), no qual não existe a ideia de “lixo” e tudo que é produzido serve para alimentar um novo ciclo.

Já imaginou se geladeiras, smartphones e televisores pudessem retornar ao ciclo produtivo em vez de serem descartados ao final de sua vida útil? Essa é a proposta da economia circular: transformar resíduos em insumos e novas matérias-primas, acabando com o desperdício e criando um sistema regenerativo.

Mas é claro que isso exige uma mudança radical na forma como produzimos hoje.

Para começar, os produtos teriam que ser feitos com materiais mais fáceis de reciclar, sem substâncias tóxicas e focados na funcionalidade — ou seja, adeus obsolescência programada.

Por que a economia circular é importante

A economia circular já é tendência no mundo todo como alternativa sustentável ao sistema atual e medida urgente para frear a destruição do meio ambiente.

De acordo com o relatório da Circle Economy, o uso dos recursos naturais como minerais, carvão e petróleo quadruplicou desde 1970 — um crescimento muito mais rápido do que o da população mundial, que dobrou no mesmo período.

Além disso, 15% desses materiais é jogado na atmosfera na forma de gases que causam o aquecimento climático, e quase um quarto é descartado no meio ambiente, como o lixo plástico que invade rios e oceanos.

Enquanto isso, apenas 8,6% da matéria-prima mundial é de fato reciclada e está inserida em um modelo de economia circular. Logo, há um longo caminho pela frente para implementar a circularidade na economia, mas a ideia já está ganhando o mundo.

Em junho de 2020, o Parlamento Europeu deu um passo importante aprovando um sistema de classificação para investimentos sustentáveis que usa a economia circular como critério, conforme noticiado na Folha.

Ao mesmo tempo, empresas como The Coca-Cola Company, L’Oréal, IKEA Foundation, World Wildlife Federation e World Economic Forum assinaram uma carta pública se comprometendo a reconstruir um mundo melhor e contribuir com a transição para a economia circular pós-pandemia.

Situação da economia circular no Brasil

A economia circular ainda é uma realidade distante para o Brasil, se considerarmos a situação atual.

O País gerou 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2019 (Agência Brasil) e é considerado o quarto maior gerador de lixo plástico do mundo (de acordo com a ong WWF).

Além disso, o País recicla apenas 3% desses resíduos, e segue com seus índices de reciclagem estagnados há quase uma década, mesmo após a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010. 

Enquanto o mundo fala em economia circular, temos lixões por todo o território e estamos longe de ter a coleta seletiva universalizada (apenas 17% da população do País é atendida pelo serviço).

De acordo com a presidente do Instituto GEA, Ana Maria Luz, os principais motivos para esses números desanimadores são a falta de informação da população e desinteresse político e industrial sobre o tema.

Em entrevista à Revista Galileu de 2020, ela afirma que é preciso investir em educação e no sistema de coleta seletiva, além de responsabilizar as empresas pela reciclagem dos materiais.

Outro ponto é que os próprios impostos são um obstáculo no País: o sistema tributário taxa mais a matéria-prima reciclada do que a virgem, encarecendo o processo.

Iniciativas para mudar esse cenário

Diante desses números alarmantes, já existem iniciativas para mudar o cenário no País.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria), por exemplo, está empenhada em criar um movimento de mobilização pela economia circular.

Nas palavras de Mônica Messenberg, da CNI, em entrevista à Época de 2019: “é necessária uma articulação maior entre setor produtivo, governo e sociedade, além de uma aproximação com a academia, no sentido de desenvolver novos modelos de negócio que estimulem a economia circular”.

Para isso, a entidade defende a adoção de modelos de negócio que valorizem a funcionalidade do produto, sistemas de triagem de resíduos para reciclagem e incentivos governamentais para estimular essas práticas entre as empresas.

De acordo com a Pesquisa sobre Economia Circular 2019 da CNI, 76,4% das indústrias já estão desenvolvendo alguma iniciativa de economia circular. São apenas os primeiros passos, mas já renovam as esperanças em um futuro mais sustentável para o País.

3 impactos da economia circular na gestão financeira

A economia circular terá um impacto significativo na gestão financeira de empresas, já que estamos falando de um modelo totalmente novo de produção e consumo.

Confira algumas mudanças previstas.

Redução de custos para as empresas

Segundo um estudo da consultoria McKinsey em parceria com a Fundação Ellen MacArthur, divulgado em 2017, a economia circular poderia poupar 600 bilhões de euros das empresas globais e aumentar a produtividade em 3% até 2030, além de gerar mais 1,8 trilhão de euros em benefícios econômicos.

Entre as iniciativas necessárias para alcançar esses resultados, estão a mudança para energias e materiais renováveis, promoção da economia de compartilhamento e eliminação de resíduos da cadeia de produção.

Novos modelos de negócio

A economia circular também vai gerar novos modelos de negócio, exigindo que as empresas repensem sua forma de gerar valor e oferecer soluções aos consumidores.

De acordo com o relatório Money makes the world go round (“Dinheiro faz o mundo girar”, em tradução livre do inglês) da Fundação Ellen MacArthur, as empresas circulares terão como diferencial a criação de produtos com longa vida útil, que são transmitidos de consumidor para consumidor e devolvidos à empresa no final.

Mas isso não significa lucrar menos, pois, como diz o relatório, “desperdiçar produtos é o mesmo que desperdiçar dinheiro”.

Transição de produtos a serviços

Outra tendência da economia circular com impacto na gestão financeira é a transição da venda de produtos para a venda de serviços.

Nesse novo cenário, a aquisição de produtos uma única vez por um montante de dinheiro será gradualmente substituída pelo uso de produtos como serviços e pagamentos recorrente, de acordo com o relatório Rethinking finance in a circular economy do banco ING.

É como já acontece na economia de compartilhamento: em vez de vender um carro, a empresa vende mobilidade por meio do compartilhamento de veículos.

E aí, gostou do conceito de economia circular e da sua promessa de sustentabilidade?

Deixe sua opinião sobre esse novo modelo aqui nos comentários. 

Leia mais:

+ O que é o Banco Mundial e como ele funciona

+ O que é PIB e como ele impacta a sua vida

+ Zoom fatigue: o que é e 6 dicas para evitar a exaustão mental

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