A educação financeira infantil é um desafio no Brasil, onde nem sequer os adultos têm uma boa relação com o dinheiro.
Para as crianças, então, é um assunto distante, mas que deveria se tornar prioridade em todas as escolas e lares.
Segundo um estudo sobre educação financeira divulgado pelo Banco Central, crianças que aprendem desde cedo a lidar bem com dinheiro possuem mais chances de se tornarem adultos responsáveis, conscientes e bem-sucedidos financeiramente.
Leia nosso artigo até o fim e veja o que você pode fazer para ajudar a formar uma geração mais próspera.
O que é educação financeira infantil?
A educação financeira infantil é a ciência da gestão do dinheiro voltada às crianças, a qual ensina os princípios básicos para elas terem um futuro mais próspero.
Quando aprendemos desde pequenos a gerenciar nossas finanças, crescemos tendo uma relação mais saudável com o dinheiro e conseguimos realizar nossos objetivos, além de evitar o endividamento.
No entanto, em termos culturais, o Brasil ainda apresenta grandes obstáculos para a criação de hábitos de educação financeira nas famílias.
Isso porque o nosso povo não é muito fã de falar sobre dinheiro: pesquisas recentes indicam 47,3% dos brasileiros pensam que conversar sobre finanças é sinônimo de problemas.
Em outro dado alarmante, 61% dos brasileiros associam as conversas sobre dinheiro a sentimentos ruins, o que leva a impactos negativos no aprendizado infantil sobre educação financeira.
Essa aversão ao planejamento financeiro reflete questões históricas, referentes principalmente aos muitos anos de instabilidade econômica.
Falar de dinheiro é preciso. Você está preparado para isso?
Para mudar essa realidade, é preciso agir na raiz do problema e investir na educação financeira para crianças desde os primeiros anos de vida.
Principais lições de educação financeira infantil
A educação financeira infantil é baseada em alguns pilares que determinam o comportamento e as decisões em relação ao dinheiro.
Veja quais são os principais:
- Compreensão do valor do dinheiro;
- Associação entre esforço e recompensa;
- Capacidade de poupar;
- Redução de custos;
- Limitação de orçamento;
- Separação entre necessidade e desejo;
- Noção sobre investimentos.
Explicaremos cada uma das lições a seguir.
Compreensão do valor do dinheiro
A primeira lição de finanças para crianças é sobre o valor do dinheiro.
Logo que começa a aprender os números, a criança pode ter contato com notas e moedas e, aos poucos, fazer a associação entre a soma monetária e as compras da família.
Além disso, é importante que ela reconheça o esforço por trás de cada produto ou serviço adquirido e entenda que os presentes dados pelos pais têm um custo.
Associação entre esforço e recompensa
Outro ponto importante é a associação entre o esforço e a recompensa, que é a lógica central do mercado de trabalho e do empreendedorismo.
Desde cedo, a criança pode ganhar dinheiro conforme cumpre metas e realiza tarefas — exceto atividades que devem ser reconhecidas como obrigação, como estudar.
Dessa forma, ela entende que uma vida financeira próspera depende de seu próprio empenho.
Capacidade de poupar
A capacidade de poupar é uma das lições mais importantes da educação financeira em qualquer idade.
Para crianças, o bom e velho cofrinho é um ótimo começo para aprender a economizar, acumular dinheiro e alcançar objetivos ao longo do tempo.
Quando os pequenos entendem que guardar um pouco de seu dinheiro significa ter condições para comprar algo melhor futuramente, está plantada a semente da organização financeira.
Redução de custos
Quando os pais ensinam a criança a fechar a torneira ao escovar os dentes ou apagar as luzes quando sai do cômodo, estão educando sobre redução de custos e, de quebra, contribuindo para o meio ambiente.
É importante ficar bem claro que cada real economizado representa novas oportunidades de consumo e recompensas futuras, sendo que nada é pior que desperdiçar dinheiro.
Limitação de orçamento
A criança também precisa entender o mais cedo possível que existe uma limitação de orçamento na família.
Na idade certa, os pais devem compartilhar a organização das contas da casa e falar sobre salário, renda e gastos da casa.
Assim, ela cresce sabendo que o dinheiro é limitado e é preciso administrá-lo de forma inteligente para alcançar suas metas.
Separação entre necessidade e desejo
Não são poucas pessoas que chegam à idade adulta sem saber diferenciar necessidades de desejos na hora de tomar decisões financeiras.
Quem não tem essa base corre o risco de comprar compulsivamente e se descontrolar com os gastos por impulso, comprometendo o orçamento e todos os seus objetivos.
Por isso, é importante educar a criança para evitar o consumismo excessivo, ensinando a diferença entre querer e de fato precisar de algo.
Noção sobre investimentos
Por fim, a noção sobre investimentos pode ser ensinada desde a infância, formando adultos que entendem o que significa “fazer o dinheiro trabalhar para você”.
Nesse caso, a criança pode ser apresentada aos produtos financeiros mais simples do mercado e aprender sobre rentabilidade, liquidez e juros, por exemplo.
O importante é que ela entenda a relação entre o valor do dinheiro e o tempo, aprendendo a investir hoje para colher os frutos amanhã.
Qual a idade certa para iniciar as lições de educação financeira?
Muitos pais e familiares têm dúvidas sobre a idade certa para iniciar as atividades de educação financeira infantil.
Na visão do planejador financeiro Francisco Levy, o envolvimento das crianças com as finanças pode começar aos 3 anos.
Entre os 3 e 5 anos, os pequenos já podem guardar moedas no cofrinho e aprender a economizar, recebendo uma quantia semanal fixa.
A partir dos 6 anos, a criança pode começar a fazer pequenas compras sob supervisão dos pais, ganhar dinheiro ao realizar tarefas e traçar objetivos para o dinheiro economizado, por exemplo.
Já a idade certa para ter a primeira conta bancária é por volta dos 9 anos, quando as habilidades de gestão já estão mais desenvolvidas.
De modo geral, a própria criança deve demonstrar interesse no assunto e sinalizar aos pais quando é necessário abordar um novo tema financeiro.
4 dicas para educar crianças sobre finanças
Os princípios já dão uma boa ideia de como abordar a educação financeira infantil em casa, mas temos mais algumas dicas para você:
- Fale sobre dinheiro;
- Dê uma mesada educativa;
- Separe o consumo do lazer;
- Ensine a criança a registrar e poupar.
Veja como direcionar o aprendizado corretamente.
1. Fale sobre dinheiro
A melhor forma de educar crianças para se tornarem adultos financeiramente responsáveis é falar naturalmente sobre dinheiro desde cedo.
Sempre que possível, os filhos, sobrinhos e netos devem conhecer o orçamento familiar, entender a situação econômica da família e participar das conversas sobre dinheiro.
2. Dê uma semanada ou mesada
É fundamental que a criança tenha seu próprio dinheiro para aprender a gerenciá-lo.
Para crianças menores, o ideal é dar uma quantia fixa semanal (R$ 5 ou R$ 10, por exemplo).
Conforme elas vão crescendo, pode ser instituída a famosa mesada educativa, que exige um pouco mais de conhecimento para não gastar o dinheiro todo de uma vez.
3. Separe o consumo do lazer
Uma lição muito importante de educação financeira para crianças é saber separar o consumo do lazer.
A criança precisa entender que o prazer não está necessariamente relacionado aos gastos e que experiências podem ser mais valiosas do que bens materiais.
4. Ensine a criança a registrar e poupar
O controle e a organização financeira precisam começar bem cedo, quando a criança está começando a gerenciar seu cofrinho.
Por isso, é importante ensiná-la a juntar dinheiro para alcançar suas metas, seja comprar um brinquedo, fazer um passeio ou dar um presente para um familiar.
Além disso, ela deve entender a necessidade de anotar seus ganhos e gastos em um caderninho, como se fosse uma lição de casa.
5 livros de educação financeira infantil
Os livros de educação financeira infantil são ótimas ferramentas para orientar as crianças e ainda incentivar o hábito da leitura.
Conheça alguns títulos interessantes:
- “Almanaque Maluquinho — Pra que dinheiro?”, de Ziraldo;
- “Como falar de dinheiro com seu filho”, de Cássia D’Aquino;
- “Ganhei um Dinheirinho — O que posso fazer com ele?”, de Cássia D’Aquino;
- “Versinhos de Prosperidade”, de Álvaro Modernell;
- “Dinho e Suas Finanças”, de David F. Hastings.
Confira os detalhes de cada um dos livros.
“Almanaque Maluquinho — Pra que dinheiro?”, de Ziraldo
Em “Almanaque Maluquinho — Pra que dinheiro?”, o cartunista Ziraldo usa seu personagem clássico Menino Maluquinho para ensinar as crianças a lidar com o dinheiro.
O livro traz sete histórias em quadrinhos com assuntos como origem da moeda e do comércio, economia, investimentos e poupança — tudo em uma linguagem simples e lúdica para incentivar os pequenos.
“Como falar de dinheiro com seu filho”, de Cássia D’Aquino
Como o título sugere, “Como falar de dinheiro com seu filho” é um guia para ajudar os pais na educação financeira infantil em casa.
No livro, a educadora financeira Cássia D’Aquino mostra como conduzir o assunto e apoiar a criança na construção de uma relação saudável com o dinheiro.
“Ganhei um Dinheirinho — O que posso fazer com ele?”, de Cássia D’Aquino
O livro “Ganhei um Dinheirinho — O que posso fazer com ele?” se destaca pelas orientações sobre gestão de finanças e controle de impulsos consumistas para crianças.
Também escrito por Cássia D’Aquino, desta vez em parceria com Orlando Pedroso, é uma ótima opção para ensinar sobre finanças de forma leve, mas com muito conteúdo.
“Versinhos de Prosperidade”, de Álvaro Modernell
Em “Versinhos de Prosperidade”, o autor Álvaro Modernell aborda a educação financeira na forma de poesia.
Os versos rimados falam sobre princípios básicos de gestão financeira combinados a assuntos como ecologia, responsabilidade social e respeito à diversidade.
“Dinho e Suas Finanças”, de David F. Hastings
O livro “Dinho e Suas Finanças” conta a história de Dinho, um menino que ganha um presente especial em seu aniversário de 12 anos e inicia uma jornada de educação financeira até se tornar um adulto responsável e organizado.
A obra faz parte do Programa de Educação Financeira nas Escolas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e é voltada para o Ensino Fundamental.
Apps de educação financeira infantil
Jogos digitais são uma importante ferramenta de aprendizado, especialmente em tempos de alta conectividade dos jovens.
Ressaltamos que especialistas em saúde infantil aconselham que o uso de smartphones não seja feito por crianças pequenas, por questões de impacto no desenvolvimento cognitivo.
Confira três aplicativos que auxiliam no ensino financeiro.
1. Tindin
O app Tindin — Metaverso Educacional oferece inúmeros jogos cativantes que envolvem conceitos fundamentais de educação financeira, como formas de pagamento e tipos de aplicações.
Além da narrativa envolvente, as ilustrações são muito ricas, atraindo a atenção dos pequenos.
2. O Meu Banco
O app Meu Banco é um dos recursos mais famosos para simular situações financeiras reais.
Funciona assim: o aplicativo cria uma “conta bancária de faz de conta” para a criança, na qual os pais realizam depósitos fictícios usando uma senha específica.
A criança deverá informar todos os gastos que fizer, para que o saldo fique atualizado e os pais tenham controle de como a mesada está sendo gasta.
3. Poupadin
Poupadin é um jogo digital disponível para smartphones, tablets e até mesmo para computadores.
Com minijogos e atividades interativas, as crianças aprendem sobre a importância do orçamento e da reserva de emergência.
O aplicativo foi criado por uma das empresas da incubadora da Universidade Federal do Pará, sendo que toda a lógica do jogo foi pensada em termos didáticos para facilitar o entendimento das crianças.
Como trabalhar educação financeira na educação infantil?
O segredo é prender a atenção das crianças com atividades alegres e didáticas.
Por isso, nada de entregar livros gigantes com linguagem técnica, combinado?
Além disso, os educadores precisam levar em consideração que cada faixa etária exige um determinado tipo de linguagem na hora de conversar sobre dinheiro.
Vale lembrar que o ritmo de aprendizado de cada criança deve ser respeitado — com muita calma e paciência, os pais devem incentivar a educação financeira conforme as necessidades específicas de seus filhos.
Atividades de educação financeira infantil
Além dos aplicativos digitais e livros, saiba que existem inúmeras outras formas de ensinar como lidar bem com o dinheiro.
Veja a seguir algumas dicas imperdíveis:
- Jogos de tabuleiro, como Monopoly e Jogo da Vida, incentivam o raciocínio lógico e as habilidades de negociação;
- Músicas, como as do Planeta Doce, são ótimas para ensinar crianças pequenas de maneira leve e divertida;
- Desenhos animados também são uma excelente alternativa, principalmente quando é a própria Turma da Mônica quem ensina;
- Cofrinho (físico ou virtual), para que as crianças criem uma rotina de poupar parte da mesada.
Viu como estimular a educação financeira infantil é mais fácil do que parece? Siga nossas dicas e prepare o futuro de seus filhos!
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