A obsolescência programada é a prática de projetar produtos com vida útil limitada, forçando o consumidor a substituí-los após certo tempo.
Isso pode ocorrer por desgaste planejado, desatualização tecnológica ou falta de suporte, incentivando o consumo contínuo e, muitas vezes, afetando o meio ambiente e o bolso dos consumidores.
Muitos fabricantes adotam a obsolescência programada como tática para criar a constante demanda por novos produtos.
No entanto, no contexto global de sustentabilidade e conscientização ambiental, as pessoas estão cada vez mais atentas e críticas a esse tipo de abordagem.
Neste texto, explicamos como funciona a obsolescência programada e os impactos que ela gera.
O que é obsolescência programada?
Obsolescência programada nada mais é do que uma estratégia de fabricar intencionalmente produtos que duram menos.
De eletrônicos a calçados, a produção de materiais com vida útil reduzida é uma abordagem que força os consumidores a constantemente repor seus objetos pessoais.
Em outras palavras, as próprias empresas mantêm viva a demanda e promovem o faturamento contínuo.
Como veremos ainda neste texto, a obsolescência programada possui vários problemas, incluindo o estímulo ao descarte rápido e o consequente acúmulo de resíduos danosos ao meio ambiente.
Conheça também o conceito de obsolescência perceptiva.
Como funciona a obsolescência programada?
Na obsolescência programada, basicamente, as empresas encurtam propositalmente a vida útil de um produto, mesmo que a tecnologia utilizada para a sua confecção permita uma duração maior.
Isso pode ser feito através de materiais de baixa qualidade, componentes projetados para falhar após certo tempo, ou pela interrupção de atualizações e suporte.
No caso dos dispositivos eletrônicos, por exemplo, existe a possibilidade de os sistemas não atualizarem mais, levando ao comprometimento operacional.
Além disso, as empresas podem lançar novos modelos com melhorias mínimas, incentivando a troca constante.
Como já explicado, a ideia é induzir os consumidores a comprar substitutos regularmente, mantendo a demanda do mercado em questão.
Aqui estão 14 documentários e filmes sobre consumismo para você refletir sobre o tema.
Tipos de obsolescência programada
As empresas podem trabalhar com a estratégia de obsolescência programada de diferentes formas.
Conheça as principais:
Funcional
Quando o fabricante insere uma modificação no produto para causar uma pane sem razão aparente, mas que impede a sua utilização.
Um caso conhecido de obsolescência programada deste tipo foi demonstrado no documentário A Conspiração da Lâmpada (Light Bulb Conspiracy).
A obra mostra uma impressora que apresenta defeito e, a partir daí, descobre-se que o proprietário havia implantado um chip para impedir que ela continuasse imprimindo.
Operacional
Quando aparelhos antigos não comportam a atualização do sistema operacional, ou quando sistemas operacionais deixam de ser utilizados.
É o caso dos aparelhos de celular ou tablets, por exemplo.
Em ambos os casos, a obsolescência programada obriga o usuário a comprar um novo aparelho, ainda que o atual esteja em perfeito funcionamento.
Mecânico
Ocorre quando aparelhos eletrônicos começam a emitir um aviso para troca obrigatória de peças com problema, embora elas continuem funcionando.
Esse tipo de obsolescência programada pode ser observado em algumas marcas de impressoras, por exemplo.
Restaurativo
Quando a troca de uma peça do produto tem valor superior ao da compra de um novo.
Essa é a forma de obsolescência programada mais comum em aparelhos de celular ou tablets.
Qual a diferença entre obsolescência programada e perceptiva?
Sejamos sinceros: quem nunca quis comprar um novo celular simplesmente porque o atual está ultrapassado?
Basicamente, esse é o funcionamento da obsolescência perceptiva: uma abordagem de marketing agressivo que manipula os consumidores para despertar a necessidade de adquirir produtos mais atualizados.
Nesse contexto, os fabricantes lançam mão da estratégia de coleções, edições limitadas ou novas “gerações” do mesmo produto, em curto espaço de tempo, para aumentar o desejo de consumo.
Assim, ao contrário da modalidade programada, a obsolescência perceptiva não precisa comprometer a vida útil dos produtos para estimular novas compras.
Basta divulgar os benefícios das versões mais recentes.
Exemplos de obsolescência programada
A obsolescência programada é responsável por diversas trocas desnecessárias no dia a dia.
Inclusive, algumas estratégias manipuladoras se tornaram famosas por conta da proporção que alcançaram.
Confira a seguir 3 exemplos muito conhecidos!
Phoebus Cartel
O caso envolvendo a Phoebus Cartel é um dos primeiros exemplos de obsolescência programada no mercado.
O consórcio de grandes fabricantes de lâmpadas foi formado em 1924, incluindo empresas como General Electric, Osram e Philips.
Dentre os objetivos desse cartel, estava o controle e produção de lâmpadas incandescentes com vida útil reduzida.
Em outras palavras, os produtos eram fabricados com qualidade inferior propositalmente.
Como queimavam após pouco tempo de uso, as lâmpadas precisavam ser trocadas com frequência, aumentando muito o faturamento do cartel.
Apple
A obsolescência programada promovida pela Apple talvez seja o exemplo mais estudado.
Em 2017, a marca lançou um novo modelo de seu carro-chefe, o celular iPhone.
Instantaneamente, começaram os relatos de usuários de versões anteriores sobre uma possível redução na velocidade de seus aparelhos.
A fabricante negou as acusações, mas foi alvo de uma ação milionária na Europa.
Epson e HP
Outro exemplo vem de impressoras e seus cartuchos de tinta de marcas como Epson e HP.
As empresas foram acusadas de fornecer aparelhos programados para acusar a falta de tinta antes de ela ter, de fato, acabado.
Nesse caso, o consumidor se obriga a adquirir novos cartuchos (que não são baratos), pois entende que não será possível mais utilizar o atual.
Consequências da obsolescência programada nas finanças pessoais
A obsolescência programada tem um impacto significativo nas finanças pessoais, pois força os consumidores a gastarem com a reposição dos materiais afetados.
Afinal, essa estratégia é utilizada para todos os tipos de itens, de roupas a televisão, estimulando constantemente gastos muitas vezes fora do orçamento familiar.
E vale dizer: a lógica de consumo desenfreado pode funcionar como um gatilho que prejudica a própria relação do consumidor com seu dinheiro.
Com hábitos de compras por impulso, as pessoas elevam as dívidas, sobrecarregam as faturas e comprometem o próprio bem-estar financeiro.
Aqui explicamos os problemas do superendividamento.
Como a obsolescência programada afeta o meio ambiente?
Outra grave consequência da obsolescência programada são as questões ambientais, especialmente no que se refere à geração desenfreada de lixo.
O acúmulo de resíduos e o respectivo mau gerenciamento causam contaminações ambientais por metais pesados, como chumbo, alumínio e cobre.
Inclusive, existem regiões que acabam se tornando verdadeiros lixões tóxicos, prejudicando enormemente a qualidade de vida da população local.
Esse é o caso Agbogbloshie, em Gana, conhecido como o “cemitério de eletrônicos”.
Estima-se que mais de 130 mil toneladas de descarte provenientes da Europa e dos Estados Unidos são enviadas anualmente somente para essa região.
Entenda o que é consumo consciente e veja exemplos para se inspirar.
Obsolescência programada no Brasil
Ninguém está livre da obsolescência programada.
Sobre o Brasil, veja alguns dados da pesquisa realizada pela Opinion Box:
- 30% dos entrevistados trocam de celular a cada dois anos
- 28% dos entrevistados trocam de celular a cada 3 anos
- 48% dos entrevistados pretendem trocar de celular no próximo ano.
Dentre as razões que levam à substituição do aparelho, estão a necessidade de melhor processamento, bateria melhor e câmera mais avançada.
Ou seja, podemos observar que problemas mecânicos e operacionais nos smartphones comprometem sua vida útil média, pressionando os consumidores a comprar versões mais recentes.
Mas será que é mesmo necessário ou esse é um gasto supérfluo no momento? Vamos explicar como proteger o seu bolso a seguir.
Como se proteger da obsolescência programada?
Infelizmente, muitas marcas estão constantemente observando os hábitos de consumo da população para poder usar estratégias manipuladoras como a obsolescência programada.
Para driblar essa influência negativa, é importante pensar em medidas que ajudem a reduzir o consumo e, consequentemente, a mudar essa mentalidade de “produto descartável”.
Veja exemplos:
- Ser mais consciente
- Promover trocas informais (entre amigos, por exemplo)
- Avaliar a real necessidade de compra
- Escolher de quais marcas comprar.
Conheça os valores das marcas que deseja consumir, e invista naquelas que trabalham com produtos sustentáveis e lutam contra a obsolescência programada.
A mudança depende do envolvimento de todas as peças da cadeia produtiva, e você é fundamental para esse processo.