Salário bruto e líquido são valores bem diferentes quando o assunto é a remuneração do funcionário.
Quando você é contratado pela empresa, o valor anunciado na vaga e acordado com o RH é o “oficial”, mas não necessariamente o que você vai receber todo mês.
Isso porque existem vários descontos que são aplicados ao salário antes de chegar ao valor final, aquele que realmente cai na sua conta.
Então, será que você sabe a diferença entre salário bruto e líquido ou está considerando o valor errado para organizar suas finanças?
É o que vamos descobrir ao longo deste artigo, acompanhe até o final!
Qual a diferença entre salário bruto e líquido?
Entender a diferença entre salário bruto e líquido é muito importante para saber exatamente quanto você ganha e manter sua vida financeira organizada.
Vamos entender primeiro o que significa cada um dos conceitos.
O que é salário bruto?
O salário bruto, também conhecido como salário base, é a remuneração oficial que o funcionário recebe por mês.
Ou seja: é o valor do salário antes de todos os descontos que são aplicados, como a contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Imposto de Renda (IR).
Quando você vê um anúncio de emprego CLT com determinada remuneração, esse é o valor do salário bruto, que é usado pelo RH como referência e vem impresso na sua carteira de trabalho.
Além disso, a renda bruta também é o valor que o banco considera na sua análise de crédito para um financiamento ou empréstimo pessoal, por exemplo.
Logo, podemos dizer que é o salário que você ganha oficialmente — mas não exatamente o que vai para a sua conta bancária.
O que é salário líquido?
O salário líquido é o valor que você recebe de fato todos os meses, depois de todos os descontos obrigatórios sobre o salário bruto.
Ou seja: é o valor final da remuneração, que realmente conta como dinheiro no bolso.
Obviamente, o valor líquido é menor do que o bruto, pois você não pode deixar de pagar as obrigações fiscais como contribuição ao INSS e IR.
Além disso, também podem ser descontadas faltas e atrasos do valor da sua remuneração, dependendo da política da empresa.
Outros descontos possíveis são o percentual de 6% sobre o vale-transporte previsto em lei e outros benefícios que a empresa ofereça em regime de coparticipação, ou ainda empréstimos consignados que são lançados diretamente na folha.
No final, o que sobra é o seu salário líquido, que deve ser a sua referência para organizar o orçamento.
Quais descontos existem sobre o salário bruto?
Existem vários tipos de descontos que podem incidir sobre o salário bruto e impactar o valor do salário líquido.
Veja quais são os principais:
Descontos obrigatórios
Os descontos obrigatórios são definidos por lei e incidem sobre o salário bruto e outros vencimentos como bônus, gratificações e horas extras.
Hoje, existem dois principais:
- Contribuição ao INSS: é o percentual destinado ao sistema público de aposentadoria, que muda de acordo com a faixa salarial;
- Imposto de Renda: é o percentual do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), devido à Receita Federal.
A contribuição ao INSS é o que garante seu direito a receber a aposentadoria e outros benefícios da Previdência Social como auxílio-doença, salário-maternidade e pensão por morte — veja para que serve o INSS.
Já o IR é a obrigação fiscal básica de toda pessoa física, que deve pagar imposto sobre os rendimentos tributáveis recebidos da empresa — confira o guia do Imposto de Renda.
Como ambos são aplicados em forma de percentual, o desconto aumenta na mesma proporção do salário bruto. Ou seja: quem ganha mais, tem descontos maiores.
Antes da Reforma Trabalhista de 2018, a contribuição sindical também era obrigatória para todos, mas hoje só vale para trabalhadores filiados a sindicatos.
Lembrando que o FGTS não é descontado do salário e sim pago à parte pelo empregador (8% do salário bruto).
Descontos extras da empresa
Além dos descontos obrigatórios, a empresa também pode descontar outros valores permitidos por lei.
São eles:
- Vale-transporte: por lei, as empresas podem descontar até 6% do salário bruto mensal dos funcionários que solicitam o vale-transporte;
- Vale-refeição: o vale-refeição também pode ser descontado do salário bruto, desde que não ultrapasse 20%;
- Plano de saúde: as empresas são livres para descontar até 30% do salário bruto referente ao plano de saúde (oferecido como benefício) para os colaboradores que aderirem;
- Outros benefícios: a empresa também pode descontar porcentagens relativas a outros benefícios como previdência privada corporativa, vale-cultura, convênios com serviços, etc.;
- Atrasos e faltas: as ausências e atrasos dos colaboradores também podem ser descontados do salário, de acordo com as regras da empresa.
Descontos de empréstimos
Por fim, se o funcionário fizer um empréstimo consignado, as parcelas também serão descontadas diretamente do salário bruto.
Esse tipo de crédito costuma ter juros mais atrativos justamente porque o banco tem o seu salário como garantia, já que o valor cai diretamente na folha de pagamento.
Antigamente, só os funcionários públicos tinham essa opção, mas hoje já é possível pedir empréstimo consignado trabalhando no setor privado.
Por lei, o trabalhador privado pode utilizar até 30% do salário líquido — ou seja: sua parcela não pode ultrapassar esse limite após todos os descontos anteriores.
Como saber meu salário líquido?
Existem duas principais formas de consultar seu salário líquido: verificando o valor registrado no holerite (contracheque) ou checando o valor do depósito na sua conta-salário.
Nos dois casos, você conseguirá ver rapidamente qual é o valor real que a empresa paga após todos os descontos aplicados sobre a remuneração bruta.
No entanto, se você só recebeu a informação do salário bruto, como quando recebemos uma proposta de um empregador, é possível fazer os cálculos, como veremos a seguir.
Como calcular salário líquido e bruto?
O salário bruto não precisa ser calculado, pois ele já consta na sua carteira de trabalho e é informado no momento da contratação.
O que você precisa saber calcular é o salário líquido a partir desse valor, que tem todos os descontos que acabamos de ver.
Temos um passo a passo completo para ajudar você nessa tarefa.
Aqui vai um resumo:
1. Aplique o desconto do INSS
O primeiro desconto que deve ser aplicado para calcular seu salário líquido é a contribuição do INSS.
É fundamental que você deduza essa porcentagem antes de tudo, pois os outros descontos são calculados com base no valor restante.
Esta é a tabela de contribuição mensal do INSS vigente em 2023:
Faixa | Salário mensal | Alíquota |
1 | Até R$ 1.320 | 7,5% |
2 | De R$ 1.320,01 até R$ 2.571,29 | 9% |
3 | De R$ 2.571,30 até R$ 3.856,94 | 12% |
4 | De R$ 3.856,95 até R$ 7.507,49 | 14% |
2. Desconte o Imposto de Renda
O próximo passo é calcular o Imposto de Renda sobre o salário bruto já com o desconto do INSS.
A tabela do IR foi alterada em maio de 2023, com o aumento da faixa de isenção de R$ 1.903,98 para R$ 2.112 por mês.
Além disso, foi criado um desconto simplificado mensal de R$ 528 para quem faz a declaração simples e não tem muitas deduções.
Dessa forma, quem ganha até R$ 2.640 fica isento da cobrança de IR na folha de pagamento.
Esta é a tabela de incidência mensal do IR válida desde maio de 2023:
Faixa | Base de cálculo mensal | Alíquota |
1ª faixa | Até 2.112,00 | zero |
2ª faixa | De R$ 2.112,01 até R$ 2.826,65 | 7,5% |
3ª faixa | De R$ 2.826,66 até R$ 3.751,05 | 15% |
4ª faixa | De R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68 | 22,5% |
5ª faixa | Acima de R$ 4.664,68 | 27,5% |
3. Aplique os descontos extras
Agora é o momento de aplicar os descontos extras, caso façam parte da política da sua empresa.
Supondo que a empresa desconte 6% de vale-transporte, basta deduzir a porcentagem do salário bruto, e assim por diante.
O mesmo vale para prestações de empréstimos consignados, se você tiver.
4. Confira o valor no seu holerite
Depois de aplicar todos os descontos, você terá o valor do seu salário líquido que consta no final do holerite.
Geralmente, ele vem especificado como “Líquido a receber”, logo abaixo do total dos vencimentos e total dos descontos.
Assim, fica fácil conferir se o valor está correto.
Exemplo de cálculo do salário bruto e líquido
Vamos supor que você receba uma proposta para ganhar o salário bruto de R$ 3 mil em uma empresa com desconto de 6% de vale-transporte.
Primeiro, é preciso descontar o INSS, seguindo o cálculo abaixo:
- 1ª faixa: R$ 1.320 x 7,5% = R$ 99
- 2ª faixa: (R$ 2.571,29 – R$ 1.320,00) x 9% = R$ 1.251,29 X 9% = R$ 112,62
- 3ª faixa: (R$ 3.000 – R$ 2.571,29) x 12% = R$ 51,45
- Total de INSS: R$ 99 + R$ 112,62 + R$ 51,45 = 263,06.
Depois, é necessário calcular o desconto do IRPF sobre o valor do salário menos o INSS, seguindo a mesma lógica de alíquotas progressivas:
- Salário – INSS = R$ 3.000 – R$ 263,06 = R$ 2.736,94
- 1ª faixa: R$ 2.112 = isento de IR
- 2ª faixa: (R$ 2.736,94 – R$ 2.112) x 9% = R$ 624,94 x 7,5% = R$ 46,87
- Total de IR: R$ 46,87.
Logo, temos os seguintes descontos:
- INSS: R$ 263,06
- IR: R$ 46,87
- VT: R$ 180
- Descontos totais: R$ 489,93.
Portanto, o salário líquido recebido para essa vaga será de R$ 2.510,07.
Rescisão e férias são calculadas a partir do salário bruto ou líquido?
Quando acontece o desligamento de um funcionário, seja por iniciativa da empresa ou do empregado, a rescisão é calculada sempre a partir do salário bruto.
Para calcular a verba rescisória, o RH soma os seguintes valores:
- Saldo de salário, considerando os dias trabalhados até o momento do desligamento;
- Décimo terceiro proporcional aos meses trabalhados;
- Férias proporcionais aos meses trabalhados + um terço extra de férias.
Se for uma demissão sem justa causa, o colaborador também tem direito a receber uma multa de 40% do saldo do FGTS acrescida ao acerto.
Depois de somar esses valores, o RH aplica os respectivos descontos de INSS e IRPF, além de outros descontos praticados pela empresa.
Assim, o valor líquido final que cai na conta do ex-colaborador é o resultado desse cálculo.
Faça seu salário líquido render mais
Agora que você sabe a diferença entre salário bruto e líquido, já pode organizar sua vida financeira com base no valor que recebe na sua conta de fato.
Um erro muito comum é considerar o valor bruto na hora de fazer o orçamento pessoal.
Lembre-se de que o salário bruto é apenas “simbólico”, e que o que realmente conta para o planejamento financeiro é o valor líquido que você terá no final.
Com esse número em mãos, você já pode distribuir suas despesas do mês e se organizar para poupar e investir.